Num fim de semana de passeios e aventuras conhecemos três belíssimas Aldeias Históricas: Monsanto, Idanha-a-Velha e Castelo Novo. Lugares magníficos, repletos de História, cultura e impressionantes envolventes naturais.
Há algum tempo que, sempre que a oportunidade surge, rumamos ao interior da zona Centro de Portugal para nos aventurarmos pelas Aldeias Históricas de Portugal. Até agora, apenas conhecíamos bem Sortelha e Piódão, pelo que se impunha continuar esta saga e acrescentar mais nomes à nossa lista de Aldeias Históricas visitadas.
Aproveitando um fim de semana prolongado no outono, decidimos viajar até ao distrito de Castelo Branco para conhecer Monsanto, Idanha-a-Velha e Castelo Novo, tomando assim partido da proximidade geográfica destas três Aldeias Históricas. De facto, pelas estradas nacionais a Aldeia Histórica de Monsanto fica apenas a cerca de 15 minutos de Idanha-a-Velha – e Castelo Novo, que fica a cerca de 50 minutos de Idanha-a-Velha, ficava mesmo a caminho no nosso regresso.
Sabendo que de Monsanto se consegue avisar até à Serra da Estrela, decidimos ficar alojados naquela Aldeia Histórica. Mas nada nos tinha preparado para a vista que nos esperava quando acordámos. Esquecemo-nos muitas vezes do quanto o nosso país é capaz de nos deslumbrar – e essa foi uma dessas vezes. O céu azul agraciou-nos com uma paisagem de cortar a respiração, pelo que mesmo antes de tomar o pequeno-almoço, já tínhamos tirado imensas fotografias.
Com a primeira refeição do dia tomada, enchemo-nos de força para subir, a pé, através da aldeia, até ao Castelo de Monsanto. Uma experiência incrível onde percebemos porque é que Monsanto foi distinguida como a Aldeia Mais Portuguesa de Portugal, em 1938: pelas suas estreitas e sinuosas ruas, e casas que parecem “nascer” dentro das pedras, Monsanto é uma das mais típicas aldeias portuguesas que alguma vez visitámos. Pelo caminho, as gentes da aldeia cumprimentavam-nos com sorridente “Bom dia!” e as senhoras sentadas à porta de casa mostravam-nos as suas Marafonas, bonecas feitas a partir de uma cruz de madeira, revestida a tecido, onde não se pintam olhos, bocas, narizes ou ouvidos. Segundo nos contaram as gentes de Monsanto, acredita-se que as Marafonas sejam poderosos amuletos contra o mau olhado, e que se forem colocadas debaixo da almofada de um casal, ajudam à fertilidade. Mais pelos encantos dos seus trajes coloridos e tradicionais que pela crença do povo, não conseguimos resistir a comprar uma pequena Marafona.
Chegados ao Castelo de Monsanto, descobrimos que as envolventes daquela Aldeia Histórica eram capazes de nos continuar a surpreender. Percebemos, ao contemplar as diversas composições de pedras que rodeiam o castelo, o que queria dizer José Saramago no livro “Viagem a Portugal”, quando escreveu “De pedras julgava o viajante ter visto tudo. Não o dia quem nunca veio a Monsanto”.
Para recuperar energias, fomos almoçar à Adega Típica “O Cruzeiro”, no pavilhão multiusos de Monsanto, onde além de uma incrível vista panorâmica, desfrutámos de uma deliciosa posta de bacalhau assado.
Passámos a tarde a passear e descobrir os recantos das ruas de Monsanto, apreciando a calma e tranquilidade daquela aldeia histórica.
No dia seguinte, rumámos a Idanha-a-Velha para descobrir a aldeia com uma das maiores estações arqueológicas do país. Esta é uma aldeia que nos leva numa autêntica viagem no tempo, já que ainda conserva vestígios dos povos romanos, suevos e dos templários, que em tempos ocuparam aquele território. De facto, segundo descobrimos, Idanha-a-Velha foi cidade capital de distrito em época romana, sede de bispado em época sueva-visigótica e foi de grande relevância na época dos Templários. Algo de que nos apercebemos percorrendo as ruas da aldeia, desde a Igreja Matriz até à magnífica Sé Catedral, onde encontramos um sem fim de vestígios de uma povoação romana. Curiosa é também a Torre dos Templários que encontramos em Idanha-a-Velha, o único vestígio visível do que foi um pequeno Castelo daquela ordem, e que hoje parece localizar-se no jardim de uma casa de família.
Para ganhar forças para o resto do dia, parámos no restaurante Helana, em Idanha-a-Nova, para o almoço. O Helana é um autêntico exemplo de restaurante sustentável, com respeito pelos ecossistemas e planeta – prova disso, é que as grandes estrelas da ementa são produtos regionais, como os cogumelos silvestres (iguaria perfeita para entrada), os enchidos (obrigatório provar o patê de farinheira) ou os queijos, de ovelha, cabra ou vaca. O Helana revelou-se, assim, uma fantástica escolha para saborear típicos e deliciosos produtos da região.
Da parte da tarde, já de regresso a casa, aproveitámos então para parar na Aldeia Histórica de Castelo Novo. Rodeada pela imponente e impressionante Serra da Gardunha, e composta por monumentos em alvo granito, em Castelo Novo sentimo-nos como num mundo de encantar, saído de um filme para crianças. As portas e janelas das casas de Castelo Novo acentuam o caráter singular desta aldeia, pois todas são pintadas de cores diferentes e garridas.
Percorremos a aldeia até chegar ao Castelo, de arquitetura militar. Hoje, apenas resta uma torre quadrangular, mas os vestígios do resto da edificação deixam adivinhar uma obra única, que como outros castelos de Aldeias Históricas que já visitámos, deixa bem claro o papel que estas edificações tiveram na defesa das nossas fronteiras.
Antes de regressar a casa, não podíamos deixar de passar pelo Atelier de Histórias Criativas de Ana Almeida, um projeto baseado na imaginação das crianças das Aldeias Históricas de Portugal. A partir das histórias que as crianças das 12 aldeias contaram num workshop de escrita criativa, sobre as terras que as viram nascer, Ana Almeida criou 12 bonecos de lã inspirados nos protagonistas das histórias, e que representam as 12 Aldeias Históricas de Portugal. Conhecer este lugar foi uma experiência fascinante, pois descobrimos que é um exemplo de dinamização da população: o atelier é de livre acesso e tem material à disposição de avós que queiram levar os netos a aprender as técnicas dos mais ancestrais trabalhos manuais.
Deixámos Castelo Novo e para trás um fim de semana de aventuras inesquecíveis pelas Aldeias Históricas de Portugal, com a promessa de regressar… muito brevemente.
Fátima Gomes Casanova
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