Entre o cenário de pequenas casinhas em xisto do Piódão, a Igreja Matriz, em tons brancos e azuis, destaca-se entre a paisagem. Mas o edifício contrasta, também, com a típica arquitetura dos templos do centro do país, evocando as igrejas do sul. Como surgiu, então, esta singela igreja, tão diferente das restantes, em plena Serra do Açor?
Do alto da Serra do Açor, já se adivinha a Igreja Matriz do Piódão, que se distingue dos restantes edifícios daquela Aldeia Histórica. A igreja do Piódão sobressai na envolvente, não só pela contrastante e alva pintura exterior, como também pela diferente tipologia relativamente aos outros templos beirões. De facto, quem a observa recorda-se de alguns templos do sul do país, onde o branco rima com o dourado dos montados.
Destaca-se a semelhança da configuração arquitetónica exterior com a Igreja de Mértola, com a Ermida de Sto. André, em Beja, ou com a Ermida de S. Brás, em Évora.
Talvez estas semelhanças se possam explicar pelo facto do Cónego Manuel Nogueira, pároco da freguesia do Piódão de 1885 a 1907, e mentor de obras de intervenção à Igreja Matriz do Piódão, ter um colega dos seus tempos de seminário em Coimbra, da paróquia de Mértola. Foi, na época daquele Cónego, que a fachada da Igreja Matriz foi reforçada com quatro contrafortes cilíndricos, elevados em relação ao corpo da nave, com remate em coruchéus cónicos. Remonta igualmente a essa altura a construção da torre sineira e do coro-alto, tendo o templo avançado para a sua cabeceira com o corpo da capela-mor, que também passou a ficar dotado com quatro colunas cilíndricas, como contrafortes, em cada um dos cantos da estrutura.
A Igreja Matriz do Piódão será, assim, um caso ímpar de revivalismo manuelino-mudéjar: um estilo híbrido, que se desenvolveu entre os séculos XII e XVI, sobretudo no Alentejo, que cruza a arquitetura manuelina com a arte islâmica. Com a particularidade de ter ocorrido quatro séculos após o surgimento deste estilo.
São casos curiosos como a Igreja Matriz do Piódão que tornam as Aldeias Históricas de Portugal um destino único, onde descobrimos mais da história do nosso país, para além do que nos contam os livros.
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