“(…) num pequeno adro, é a antiga igreja matriz. O viajante entra, desprevenido, e dados três passos, para sufocado. Esta é uma das mais belas construções que já viu. Dizer que é românica e também gótica, de transição, será dizer tudo e nada dizer. Porque, aqui, o que impressiona é o equilíbrio das massas, e logo depois a nudez da pedra, sem aparelho, apenas ligadas as juntas irregulares. É um corpo visto por dentro e mais belo do que esperava ao entrar”.
in “Viagem a Portugal”, José Saramago
Pertinho do castelo da Aldeia Histórica de Belmonte, encontramos aquela que é uma das construções mais elogiadas por José Saramago, no livro “Viagem a Portugal”, em que o nobel português relata a sua épica aventura pelos caminhos do nosso país.
Trata-se da antiga igreja matriz de Bemonte, hoje conhecida como a Igreja de Santiago/Panteão dos Cabrais, um lugar de visita obrigatória numa viagem àquela Aldeia Histórica.
A Igreja de Santiago é um monumento de traço românico, que foi sofrendo modificações ao longo dos tempos, tendo elementos góticos e maneiristas. A frontaria da igreja data do século XVIII.
Dentro da igreja, pode observar-se uma capela, mandada edificar em 1240, por intermédio de D. Maria Gil e uma Pietà do século XIV.
Escreve Saramago que, à entrada “vão-se logo os olhos para a capela formada por quatro arcos, avançada em relação ao arco triunfal, sem cobertura, e dentro, encostado à parede, um grupo escultórico representando a Virgem e o Cristo morto, ele deitado sobre os joelhos dela virando para nós a cabeça barbada, a chaga entre as costelas, e ela não o olhando já, nem sequer a nós. Estão decerto muito repintadas as cabeças, mas a beleza do corpo, talhando em duro granito, atinge um grau supremo. O viajante tem em Belmonte um dos mais profundos abalos estéticos da sua vida”.
É a Pietà que mais impressiona Saramago, na Igreja de Santiago. “A Pietà é a mais magnífica peça que aqui existe”, comenta. Contudo, também se deixou fascinar por outros pormenores. “Mas não podem escapar sem atenção os capitéis das colunas próximas, nem o arco da capela-mor, nem os frescos que ao fundo estão. E se o viajante aturar o menor depois de ter contemplado o maior, tem na sacristia uma Santíssima Trindade com um Padre Eterno de olhos assustadoramente arregalados, e na nave uns túmulos renascentistas, mas frios, e um S. Sebastião atlético e feminino, de longos cabelos caídos sobre os ombros e gesto de afetada elegância. Veja isto tudo, mas antes de sair coloque-se outra vez diante da Pietà, guarde-a bem nos olhos e na memória, porque obras assim não vê todos os dias”.
Saramago não deixa dúvidas. Há várias razões para visitar Belmonte – e duas delas são a Igreja de Santiago e a sua Pietà.
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