Todos os dias, muitos são os curiosos que descobrem as Aldeias Históricas de Portugal e que se apaixonam pelos seus castelos, muralhas e paisagens a perder de vista. Mas quem foi o primeiro a conhecer este território?
Reza a História que D. Manuel I incumbiu Duarte D’Armas, escudeiro da Casa Real, de elaborar o que, hoje em dia, seria um relatório pormenorizado sobre o estado de conservação das fortalezas implantadas ao longo da fronteira com Castela.
A linha de fronteira daquela época coincide com a linha de fronteira atual – por isso, podemos imaginar a dificuldade da empreitada. A não esquecer, também, que isto se passou no Portugal de Quinhentos, que dispunha de pouco mais que uma rede de estradas de base romana, acrescida de mais umas poucas pontes românicas e góticas.
Mas o desafio de percorrer os 1.200 km, entre Castro Marim e Caminha, não assustou Duarte D’Armas. A cavalo e acompanhado pelo criado que se deslocava a pé, partiu de Lisboa para Castro Marim e daí (na Primavera de 1509) percorreu, durante cerca de sete meses, a maioria das povoações acasteladas de fronteira, até Caminha. Visitou, assim, 56 povoações ou castelos cuja descrição organizou num excecional e incomparável trabalho, concluído em março de 1510.
Do território das Aldeias Históricas de Portugal, Duarte D’Armas representou Almeida, Castelo Mendo, Castelo Rodrigo, Monsanto e muitas povoações em seu redor como Sabugal, Penha Garcia, Idanha-a-Nova ou Penamacor.
Duarte D’Armas elaborou desenhos de cada povoação de dois ângulos panorâmicos. Desenhou plantas e descreveu as fortalezas. De forma pormenorizada, escreveu, ainda, sobre os percursos entre povoações, distâncias, principais acessos, estradas e caminhos, incluindo descrições sobre a configuração do terreno, cursos de água e sua navegabilidade, pontes, fontes, culturas, edifícios militares, civis e outros.
O escudeiro de D. Manuel I não deu nome à sua obra, mas esta ficaria conhecida como “Livro das Fortalezas”. Hoje, esta incrível obra encontra-se no Arquivo Nacional da Torre do Tombo.
O “Livro das Fortalezas” será, assim, o primeiro guia de viagem das Aldeias Históricas de Portugal e das restantes povoações da fronteira portuguesa que, até aos dias de hoje, ainda não deixaram de nos surpreender – tal como ao seu primeiro viajante, Duarte D’Armas.
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